quarta-feira, 1 de julho de 2009

Capítulo Um – A primeira impressão é a que fica?

Era pra ser um dia como qualquer outro, mas pra ela era uma nova fase. Marina, ou simplesmente Nina, como costumavam chamá-la, estava começando o Ensino Médio. O colégio era o mesmo desde quando ela estava na 5ª série, mas ela sabia que seria diferente. Nina morava com a mãe, o padrasto e a irmã de 4 anos de idade. Seus pais não chegaram a se casar, portanto ela não conviveu muito com o pai, apesar de ele morar em outro estado e eles manterem contato quase constante. Que seja, não importa.

Naquela manhã, Nina acordou bem cedo, o colégio não ficava muito longe de sua casa, na verdade era na mesma quadra, mas ela precisava de mais tempo, primeiro: porque era o primeiro dia de aula, o que significava que ela tinha que estar apresentável (ela apreciava o ditado de “a primeira impressão é a que fica”), segundo: porque além de se arrumar, ela tinha que arrumar e levar a irmã pra creche, o que demorava um tanto e a tirava do caminho da escola. Ela já estava acostumada a essa rotina, fazia isso desde os 12 anos, quando a irmã começou a freqüentar a creche.

Ela sabia que não precisava ir de uniforme no primeiro dia de aula, mas optou por ele mesmo, ela se sentia bem com ele, se sentia bonita. Olhou mais uma vez no espelho, pra ver se não tinha nada de errado, nenhum fio de cabelo fora do lugar, ou marca de pasta de dente no canto da boca, ou um brinco faltando... Era típico dela se esquecer dos detalhes quando estava nervosa. Sua mãe já tinha ido pro trabalho quando ela saiu de casa arrastando a pequena Renata, esse era o nome da sua irmã.

Nina estava muito nervosa, não sabia ao certo se encontraria suas amigas, não mantivera tanto contato nas férias, e sabia que algumas tinham planos de mudar de colégio.

Ela já estava no portão do colégio, respirou fundo e entrou. Havia muitos rostos desconhecidos, alguns conhecidos, e o melhor de tudo, as suas amigas. Nina ficou muito feliz em vê-las, primeiro viu Laura, e depois Melissa, e logo após se juntou ao grupo em que elas estavam. Nina não conversava com todos no grupo, eram só conhecidos, nem mesmo colegas. Nem deu tempo de elas conversarem direito, foram logo ver em que turma estavam. Infelizmente, Nina não estava na turma de nenhuma amiga. O sinal tocou, e ela foi pra sua sala.

Chegando lá, ela conhecia algumas poucas pessoas, a maioria amigos de amigos. Ela se sentou bem no meio na turma, pois os outros lugares já estavam quase todos ocupados. Perto dela estava Camille e Viviane, que eram do grupo “amigas de amigas”, e Nina desejou nunca ter pegado aquela sala, ela tinha aversão à Viviane, Nina a odiava pelo simples fato de ela existir. Viviane era uma garota que nem tamanho de gente tinha, e só faltava um letreiro luminoso em cima de sua cabeça dizendo: “oi, eu sou uma vagab...” Enfim, vamos pular essa parte. Além delas, também estavam perto Patrícia, Fernanda e Mily, que Nina ainda não conhecia, mas já tinha uma simpatia por elas. Mais atrás estava Ana, uma menina com ela poderia conversar, já que elas meio que se conheciam.

Nina prestava atenção em cada rosto que entrava na sala, no lugar em que cada um estava, as possíveis características de cada um, na verdade estava procurando se distrair, já que não conversara ainda com nenhuma das meninas próximas a ela. As três primeiras aulas se passaram com Nina em silêncio, apenas conhecendo os novos professores. A primeira foi de Matemática, com a Profª Raquel, ela já dava aulas no colégio, mas nunca havia sido professora de Nina. A segunda foi de Física, o professor parecia saber muito, mas não tinha voz ativa com a turma, seu nome era Airton. E a terceira aula fora Geografia, com uma antiga professora do Colégio Dom Bosco, que fora professora de História de Nina na 5ª série, se chamava Aramilda.

Durante o intervalo, Nina pode conversar com as suas amigas.

- Me conta, pegou a sala de alguém conhecido? – perguntou Nina à Laura.

- Ah... De alguns e você? – respondeu Laura.

- Ui, peguei a sala da “Vivi”! – disse Nina com nojo – e também da Camille, da Ana... Mas tem um monte de gente que eu não conheço, to totalmente sozinha! Bem que você poderia mudar pra minha sala, né?

Nina gostava muito de Laura, elas eram como melhores amigas, pelo menos até antes das férias, quando elas não se falaram tanto.

- Se tivesse jeito, mas não dá. Mas hoje foi só o primeiro dia, você já arranja com quem conversar. Por que você não conversa com a Ana? Ela é bem legal...

- É, pode ser. Não vi se tinha alguém sentado perto dela, mas acho que vou ficar por lá....

Elas continuaram conversando e foram andar. Desde sempre elas tinham a mania de ficar andando pelo colégio durante o intervalo. Voltas e voltas e mais voltas, enganchadas pelos braços. Não demorou muito e o sinal tocou novamente. Nina se despediu de Laura e foi para a sua sala.

Os alunos ainda não tinham entrado todos na sala, e Nina se sentou atrás de Ana, que aparentemente não tinha ninguém ali.

- Oi Ana! – saudou Nina.

- Oi! Você é amiga da Dani, né? – respondeu Ana.

- Aham, posso ficar aqui com você? É que ali no meio eu tava muito sozinha, e você eu meio que já conheço... – pediu Nina.

- Claro, senta ai! O quê que você achou da sala? – perguntou Ana.

- Ah, sei lá... Não conheço quase ninguém. – disse Nina, meio sem jeito.

- Eu também não! – disse Ana, sorrindo – Achou algum menino bonitinho?

- Nem, essa sala ta meio necessitada de meninos bonitos... Olha em volta nenhum que preste! – respondeu Nina, com humor em sua voz.

- Verdade! – concordou Ana.

Nesse momento a sala já estava ficando cheia, e a Profª Mariene, de biologia tinha acabado de entrar na sala. Logo atrás dela entraram dois garotos que Nina não tinha notado nas primeiras aulas, talvez porque eles estivessem sentados muito no fundo, mas agora que era ela que estava no fundo ela os viu, e um deles estava vindo na sua direção. Nina perguntou à Ana:

- Tinha alguém sentando aqui?

- Ai, tinha esquecido, o menino de vermelho.

O tal menino de vermelho parou na mesa de Nina.

- Licença? – disse ele.

- Posso ficar aqui? Só agora, depois a gente troca! – pediu Nina, com um tom super apelativo.

- Ta bom. – respondeu ele, e saiu pra sentar num lugar que tava vazio mais à frente.

Aquela foi a primeira vez que Nina o tinha visto, mas ela sentiu que aquele garoto tinha alguma coisa que chamava a sua atenção. O menino de vermelho. Foi assim que Ana o chamou. Ela também não o conhecia. Ele usava a calça do uniforme do colégio, um boné e um moletom vermelho. Simples, mas característico, vermelho chama a atenção. Mas não fora a cor do seu moletom que prendera a atenção de Nina. Havia algo mais. Quem era ele? Quantos anos tinha? Ele parecia ser repetente. Mas ela não sabia nada sobre ele. Ainda. Mas queria descobrir.

Marina sempre teve um certo complexo de inferioridade, mas com o passar do tempo estava superando isso. Ela nunca notou nenhum garoto interessado nela, nunca pensou em si mesma como a mais bonita da sala, nunca foi a mais popular, mas suas amigas sim, essas eram sempre as mais bonitas, as mais desejadas, as mais populares. Isso a incomodava.

Ela era uma menina tímida, mas aos poucos ia ganhando segurança e se soltando cada dia mais. Esse comportamento fazia dela uma garota frágil, não fraca, ela era uma menina muito forte, não no sentido literal, mas ainda assim, frágil. Se iludia facilmente, acreditava em tudo que diziam a ela, consequentemente se machucava muito. Ela sempre estava apaixonada por alguém. Não que esse alguém soubesse disso. Mas ela sempre conservava amores platônicos, geralmente um a cada ano. Quando ela percebeu que isso era só coisa de criança, que nunca a levaria a nada, apenas a chorar por alguém que nem ao menos sabia que ela existia, ela resolveu que nunca mais ia se apaixonar, que amar alguém era só pedir pra sofrer. Ela até que tentou viver dessa nova forma, mas foi naquele dia que tudo mudou sem ela perceber.

Desde que se entendia por gente, Nina tinha o sonho de tocar guitarra. Ela ficava fascinada cada vez que ouvia o som de uma. Ela já tinha pedido uma guitarra pra sua mãe, mas a mãe sempre dava uma desculpa e nunca a comprava, e quando se falava em aprender a tocar, sempre o mesmo discurso:

- Pra quê? Você não tem uma guitarra ainda, quando eu comprar uma, eu te ponho num curso. – dizia a mãe de Nina.

E assim o tempo passava e esse dia nunca chegava.

Já era de tarde, e Nina já estava em casa, sozinha. Ela costumava passar a tarde inteira sozinha, sua irmã só saia da creche às 17h e sua mãe só chegava depois das 19h, junto com o seu padrasto. Sem nada pra fazer, e mesmo que tivesse, não estaria fazendo, Nina estava deitada em sua cama, deixando seus pensamentos rolarem. O som estava ligado num volume baixo, apenas um fundo musical, onde tocava “I miss you”, de Blink 182, uma banda que ela gostava. A primeira coisa que veio em sua cabeça foi o tal menino de vermelho. Por que ela estava pensando nele? Nem o conhecia. Mas algo nele deixava um ponto de interrogação na mente de Nina.

O dia passou sem nada de extraordinário. A maioria do tempo a mente de Nina vagava pelo campo desconhecido que era o tal menino. Ela fez o que tinha de fazer em casa, ligou um pouco o computador, depois foi buscar sua irmã na creche e se apressou na volta pra não perder o começo de Malhação. Ela era viciada em Malhação. Cuidou de Renata até que sua mãe chegou, depois voltou ao computador. Anoiteceu rápido, e Nina já não tinha mais nada o que fazer. Depois de tomar café, ela resolveu ir se deitar, afinal, tinha que acordar cedo no outro dia.

A rotina da manhã foi a mesma, e ao chegar ao colégio, Nina foi direto pra sala, pois o sinal já tinha tocado. A sala já estava quase cheia, e o lugar perto de Ana já estava ocupado pelo tal garoto que era um ponto de interrogação para Nina. Ela se sentou perto de Patrícia, com quem começou a conversar.

- Oi, você é a Patrícia, né? – perguntou Marina, pensando “Que belo jeito de começar uma conversa!”

- Sou. E você é a Marina! – disse Patrícia.

- É. Você já estudava aqui? – perguntou Marina.

- Já, só que eu estudava de tarde. – respondeu Patrícia.

- Conhece alguém daqui?

- Um pouco, tem gente que era da minha sala do ano passado. – disse Patrícia.

Elas continuaram com uma conversa sem rumos muito certos, apenas se conhecendo. A professora entrou na sala, a aula que teriam era Inglês e o nome da professora era Vanda. Era a primeira vez em que a chamada estava sendo feita, no dia anterior eles apenas assinaram uma folha de papel. Essa era a chance de Marina descobrir o nome do tal garoto. Ela estava tentando prestar o máximo de atenção, apesar das conversas na sala, e acompanhar quem respondia a cada nome chamado. Os nomes iam sendo chamados, e ele nunca respondia, até que a professora chamou: Lucas. E ele respondeu com um simples “Eu”. Então esse era o nome dele. Lucas. Ela não prestou atenção em mais nenhum nome, respondeu ao chamado do seu nome por costume. Repetia silenciosamente em sua mente: Lucas.

Ele não era o tipo “Deus Grego” por quem Marina costumava se interessar, mas também não era de se jogar fora. Era moreno, um tanto mais alto que ela, um garoto normal. Ele estava conversando com um outro menino, de quem Marina não lembrava direito o nome, Luan, ou talvez Luis, ela não prestou atenção, quando a professora interrompeu:

- Lucas, você ainda ensina a tocar violão? Meu filho queria aprender.

Ao ouvir as palavras “Lucas” e “violão” numa mesma frase, Marina se virou instantaneamente para observar Lucas. Ele respondeu:

- Sim, é só ver um horário!

Marina quase não conseguia acreditar. O menino que tanto lhe chamara a atenção seria a chave para realizar o sonho dela. Aprendendo a tocar violão, era um passo para a guitarra. Ela decidiu que falaria com ele.

Nenhum comentário:

Postar um comentário