quarta-feira, 1 de julho de 2009

Capítulo Oito - Cicatriz

Na maioria do tempo em que estavam relativamente juntos, Lucas e Marina pouco se falavam. Às vezes isso era bom, às vezes não. Mas também havia as vezes em que Lucas tentava se aproximar dela, mas ela tinha muito medo de voltar a se envolver, porque coincidentemente isso sempre acontecia quando ela estava conseguindo não pensar tanto nele. Ela sabia que, se caso retribuísse de imediato às investidas de Lucas, certamente o dia seguinte não seria um bom dia, que ele não daria a mínima atenção a ela, que só seria mais um dia triste. Talvez ela só estivesse sofrendo por antecedência, mas ele estava sempre tão perto e tão longe, e experiências passadas deixavam bem claro como ele agiria.

Lucas estava muito desleixado com os estudos nos últimos dias, sempre faltando às aulas, e quando comparecia ao colégio, não entrava em nenhuma aula, andava esquisito. Marina não gostava de vê-lo assim, ela se preocupava com ele, sabia que agindo assim poderia perder o ano, o que não era nada bom pra, já que era repetente, mas ele nunca levava a sério as preocupações dela, quando, ocasionalmente ela falava algo sobre isso.

Certa vez, durante um intervalo, Marina e Patrícia estavam andando juntas pelo pátio do colégio, como de costume. Lucas estava com alguns amigos na quadra, só havia comparecido à primeira aula daquele dia, e não pretendia entrar nas duas últimas, que eram ambas de Português. O sinal havia tocado, e os alunos tinham um tempo de cinco minutos de tolerância para entrar nas salas. Estava um grande tumulto de alunos nos corredores, e Marina e Patrícia estavam perto da entrada do prédio A, que ficava no extremo inverso do prédio onde era a sala delas, que ficava no prédio D, logo teriam que passar por todos os alunos, seguindo em uma quase ‘contramão’. Patrícia, para se apressar, segurou Marina pelo braço e foi na frente, passando por entre os alunos, e puxando Marina consigo. De repente, Marina chocou-se com um garoto que passava no mesmo momento em que Patrícia a puxou, o que a fez se desequilibrar e cair ao chão, machucando as mãos.

Patrícia ajudou-a a se levantar e foram até a cozinha do colégio, onde Marina lavou as mãos enquanto Patrícia pedia para a senhora que cuidava da cozinha uma pedra de gelo. Já havia se passado dez minutos desde que o sinal batera logo elas não poderiam entrar na sala. Elas saíram da cozinha, caminhando em direção à quadra do colégio, que era o único lugar onde elas poderiam ficar, já que não haviam avisado nem a professora nem a nenhuma pedagoga o motivo pelo qual não haviam entrado na sala. Marina segurava o gelo junto ao corte que havia feito em sua mão direita, próximo ao polegar, não adiantava muito, mas pelo menos amenizava a dor.

Entraram distraidamente na quadra, onde várias turmas estavam tendo educação física. Passaram pela primeira quadra, e estavam indo sentar-se à grama que dividia as duas quadras que ali ficavam. Marina não estava muito contente com a idéia de estar fora da sala durante uma aula, com todo o seu material dentro da sala, e se deu conta que estria perdendo duas aulas, considerando que eram as duas da mesma disciplina, e certamente não as deixariam entrar. Essa sua preocupação se amenizou, assim que chegaram à grama, e viram, no canto esquerdo da quadra, sentado em um banco improvisado, com mais um colega de sua turma, Lucas, que como Nina já imaginava, não havia entrado na sala. Ela e Patrícia foram lá com eles, Lucas e Eduardo. Lucas estranhou vê-las fora de sala e perguntou:

- Vocês aqui? A professora não veio?

- Não, ela ta lá na sala, é que a gente não entrou. – Patrícia respondeu.

- Por quê?

- É que, sabe, eu derrubei a Marina! – Patrícia disse rindo, e apontando para Marina, que ainda segurava a pedra de gelo sobre o corte.

- Nossa! Como você conseguiu isso? – Lucas perguntou, divertido com a cena.

- Não é muito difícil, ela é uma pessoa bem equilibrada, sabe? – eles riram. – Brincadeira, a gente tava indo pra sala, eu puxei o braço dela e ela caiu e cortou a mão. Daí a gente foi lá lavar a mão dela e pegar esse gelo, e não deu mais tempo de entrar na aula.

- Que feio, ficando fora da sala! – Lucas zombou.

- Olha só quem fala! – Marina retrucou.

- É, faz parte. – Lucas tentou se defender.

- A gente pode ficar aqui com você, Lucas? – Patrícia perguntou, sorrindo maliciosamente para Marina.

- Meu Deus, o Lucas tem mel! – Eduardo disse, olhando para as meninas e, esfregando a mão no braço de Lucas, continuou – Me dá um pouco desse mel, cara!

- Sai cara! – Lucas se afastou, brincando.

- Ai gente, ela machucou a mão. Vem aqui, senta aqui do meu lado que eu cuido da sua mão pra você! – disse Eduardo, batendo a mão no espaço vazio ao seu lado, convidando Marina. Ela fez uma cara de medo e deu um passo pra trás, brincando. Lucas se levantou.

- Não é assim que se chega numa menina, Eduardo, é assim ó. – Lucas foi andando até Marina, a cada passo que ele dava em direção a ela, ela dava um passo para trás, até que alcançou a grama, andando de costas, e não podia mais sequer dar um passo, pois havia um grande degrau. Foi onde Lucas continuou em direção a ela, e aproximou bem os seus rostos. Marina ficou sem reação, um pouco assustada, um pouco admirada, mas olhando em seus olhos, involuntariamente foi para trás e Lucas segurou em seu braço para que não caísse, o que os aproximou um pouco mais. Ele a puxou pra perto e a soltou, voltando a se sentar ao lado de seu amigo.

- Viu como é que faz? – perguntou ele a Eduardo.

- Tenho muito que aprender com você ainda! – zombou ele.

“Mais uma dessa e eu tenho um infarto!”, pensou Marina. O corte na mão dela deixou uma cicatriz, que não é só a lembrança de mais uma queda, mas também é a lembrança de uma situação um tanto quanto divertida que ela viveu com Lucas.

A professora Ge, de Português, não deixou passar em branco a ausência de Lucas e Eduardo, bem como a de Marina e Patrícia, o que era uma novidade, já que elas nunca haviam ficado fora de sala, e comunicou à inspetora, pedindo que os achasse e levasse à coordenação. Joana, a inspetora, logo apareceu na quadra chamando por eles, e os levou à coordenação, como a professora havia pedido. A pedagoga, Luisa, era bem compreensiva, e as meninas lhe explicaram o porquê de não estarem na sala, e mesmo questionando o fato de Patrícia não ser nenhuma médica e Marina não estar mutilada, aconselhou que entrassem na sala assim que tocasse o sinal para o início da última aula, caso a professora não deixasse, ela conversaria pessoalmente com ela. Já com Lucas e Eduardo foi diferente, pelo fato de eles estarem sempre faltando às aulas, e pediu que eles a esperassem, enquanto ela levava as meninas à sua sala, pois teriam uma séria conversa. Marina ficou preocupada com Lucas ao ouvir isso.

Já não era a primeira vez que Lucas acabava na sala da coordenação, e dessa vez ele foi avisado de que se continuasse assim, teriam de tomar medidas drásticas como além de chamar-lhe os pais, uma possível mudança de turno. Portanto teria que “andar na linha”. Marina ficou realmente preocupada com isso, pois se caso ele mudasse de horário, ela praticamente não o veria mais, e ela não sabia o que seria dela sem vê-lo quase todos os dias.

Marina e Patrícia entraram na sala e se explicaram com a professora, que entendeu perfeitamente, e pediu-lhes que isso não voltasse a se repetir, e que acompanhassem a aula em silêncio. E foi isso que elas fizeram. Lucas não entrou na última aula, nem Eduardo. Ao final da aula, Marina estava ansiosa para falar com Lucas, mas não o viu.

Quando se gosta de alguém, se quer o melhor pra esse alguém, e era assim que Nina se sentia em relação a Lucas. Ela se preocupava muito com ele, e não gostava nem de pensar na idéia de não vê-lo no colégio.

Naquela mesma semana, Salete, tia dela, pediu que ela cuidasse de seus dois filhos menores, Aline, de três anos e Alexandre de um ano, enquanto ela estivesse fora, já que Amanda, sua outra filha estudava na parte da tarde e não poderia cuidar deles. Marina, que não fazia nada mesmo no período da tarde, aceitou. Além do mais, lá era bem perto da casa de Lucas.

Então, Marina começou a cuidar das crianças todos os dias, não era por muito tempo, apenas três horas por dia, das 14h às 17h, quando ela saia para buscar sua irmã, Renata, na creche que também era ali por perto. Nina sai do colégio, almoçava, fazia suas lições, dava uma arrumada na casa e, às 13h50 saia de casa. O caminho era curto, e ela resolveu que sempre iria pelo caminho da avenida, que era por onde ela passaria na frente da casa de Lucas. No primeiro dia em que ela foi cuidar das crianças, ela não encontrou Lucas sentado na pequena mesa branca que ficava do lado de fora da lanchonete, como ela havia imaginado. Isso a decepcionou um pouco, pois ela queria encontrá-lo, queria falar com ele, ele estava muito sumido no colégio, faltando muito e, quando ia, saía mais cedo. Talvez se ela o encontrasse, poderia saber o que de fato estava acontecendo. Mas não foi daquela vez.

Cuidar de Aline e Alexandre não foi nada difícil, uma vez que quando Nina chegava a casa, Alexandre estava dormindo – e permanecia assim até próximo ao horário em que a mãe dele chegaria – e Andressa ficava assistindo a DVDs – o que fez Marina decorar os filmes: “Por água abaixo”, “Madagascar”, “Alladdin”, “Mulan”, entre várias outras histórias infantis. O tempo passava rápido, e logo era a hora de buscar Renata e ir para casa. Às vezes, Salete demorava um pouco mais e, quando buscava Amanda na escola, buscava também Renata na creche. Em ocasiões como essa, Marina ficava até mais tarde na casa de Salete, pois Amanda gostava muito dela e não a deixava ir embora até que estivesse realmente muito tarde para que ela ficasse acordada.

Assim que descobriu que Marina e Lucas se conheciam, Amanda começou a contar a todos que eles eram namorados, que Nina era apaixonada por ele, que eles iam se casar, e várias outras coisas do gênero. Não que ela não gostasse de ouvir isso e que não quisesse que fosse verdade, mas também ela não precisava anunciar. Amélia, mãe de Nina, começou a implicar com ela em relação a isso, acreditando em parte das coisas que Amanda dizia. Marina negava, afinal não era mesmo verdade, pelo menos não tudo.

Certa vez, depois de passar uma tarde quase inteira cuidando das duas crianças, Marina estava saindo da casa de sua tia para buscar sua irmã, e quando, automaticamente, olhou para a lanchonete, que ficava logo na esquina, viu que Lucas estava lá. Ela foi andando rápido para pegar Renata na creche o quanto antes e decidiu que iria para casa passando pela casa de Lucas. Era bem mais longe, mas talvez valesse a pena. Ele ainda estava lá, sentado em uma cadeira branca de plástico encostada na parede da lanchonete, com uma calça jeans, camiseta azul-claro, all-star azul, um boné preto e um óculos escuro, observando a rua – não havia movimento na lanchonete. Os raios solares de um quase pôr-do-sol faziam um jogo de luz e sombras em sua face, que era simplesmente fascinante. Em um movimento rápido, como se soubesse quem estava se aproximando, Lucas virou o rosto na direção de Marina, a viu e sorriu aquele sorriso que ela mais gostava. Ele se levantou e esperou por ela, que estava a poucos metros. Ela chegou e o cumprimentou com um beijo no rosto.

- Oi Lucas!

- Oi Nina! Oi menininha que eu não lembro o nome! – ele riu.

- Renata. Diz oi pro Lucas, Rê.

- Oi. – disse Renata, tímida.

- E aí, tudo bem? – perguntou Marina.

- Aham. E você?

- Também, também... Só na vida boa aqui?

- Pois é, só aqui admirando a paisagem. – ele sorriu novamente, deslumbrando-a.

- Não vai mais pro colégio, não?

- Vou sim. É que eu tinha que resolver algumas coisas, mas acho que segunda-feira eu vou.

- Sei. Sério, faz falta você lá. – Marina ficou vermelha.

- Nina, eu quero sorvete. – Renata interrompeu. “Salva pelo gongo”, Marina pensou.

- Renata, não! Hoje não dá.

- Sorvete de quê que você quer? – perguntou Lucas à Renata.

- De abacaxi. – respondeu ela.

- Lucas, deixa. Depois ela esquece, eu to sem dinheiro aqui.

- Depois a gente vê isso, agora deixa ela tomar o sorvete.

Ele caminhou até o interior da lanchonete, e pegou um sorvete de abacaxi para Renata.

- Ninguém merece você, hein Renata?!?! – Nina sussurou.

- Mas eu queria sorvete! – ela disse.

- Pronto. Toma o seu sorvete. – Lucas entregou o sorvete nas mãos de Renata.

- Como que se fala, mocinha? – perguntou Nina à ela.

- Obrigada. – disse Renata.

- De nada! – Lucas respondeu.

- Lucas, é sério, não precisava.

- Depois a gente acerta. E eu vou cobrar. – ele parecia malicioso.

- Vai amanhã pro colégio? – Nina perguntou.

- Amanhã é sexta-feira, já que faltei praticamente a semana inteira, acho que não vou amanhã não.

- Você quem sabe. Então, até depois. – ela se despediu.

- Até amanhã. E tchau Renata!

- Amanhã?

- Tchau. – Renata respondeu, tomando seu sorvete.

- É. Você não vai na casa da sua tia amanhã?

- Sim, vou. Então, ok, até amanhã. – e foi dar um beijo em seu rosto novamente. Ele, propositalmente ou não, virou um pouco o rosto, fazendo-a quase beijar-lhe os lábios. Ela apenas virou as costas e saiu. Uns quatro passos à frente, ela se virou para olhá-lo, ele também a estava olhando e sorrindo. E como se não fosse muita novidade, tudo o que Marina podia pensar depois disso, era apenas ele: Lucas. Como ele fazia isso? Hipnotizá-la de tal maneira?

4 comentários:

  1. "- Ninguém merece você, hein Renata?!?! – Nina sussurou.

    - Mas eu queria sorvete! – ela disse."
    UDHAISDHOASIUHDAISD, direta a Renata,não ? que fofa *-*
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    "- Depois a gente acerta. E eu vou cobrar. – ele parecia malicioso."
    oooh mygood, um menino desse nao pode fazer isso, é muita maldade, UIDHASOIDH
    aaah, a continuação do cap12/8 ficou muuito boa *-*
    quero logo o 13/9 *---*

    beiejos Nicole, e adorei o novo blog e o novo nome do livro *-*

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  2. é uma luta pra comentar aqui toda vez...
    não nos deixeeee!!
    tá mt bom =)
    parabéens

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  3. aaaaaaaaaaaah q linda historia.
    mto boa hein, to adorando *-------*
    mais maism mais :D

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