quarta-feira, 1 de julho de 2009

Capítulo Dois - Contato

Marina ficou com vergonha de ir falar com ele, os dias se passavam e nada. Cerca de um pouco mais ou um pouco menos de uma semana depois que ela descobriu que ele tocava violão, ela se esbarrou nele, acidentalmente. A situação foi mais ou menos assim: Marina e Ana achavam um menino super bonitinho, de outra sala, e quando Nina estava entrando na sala, o tal garoto passou por ela, e ela saiu correndo pra contar pra Ana, que estava sentada no seu lugar, ao fundo da sala. Lucas estava em pé, na carteira à frente de Ana, e, quando Nina passou por ali, meio que derrapou, se chocando com ele, que a segurou. Foi apenas um segundo, mas Marina gostou da situação.

- Ops, desculpa! – disse Nina à Lucas.

- Não foi nada. – respondeu ele, sorrindo.

Marina corou e sorriu, e se virou para falar com Ana.

- Adivinha quem acabou de passar por mim? – perguntou Marina, eufórica.

- Quem??? – disse Ana, curiosa.

- Aquele deus grego do 3º ano! Me assopra! Ele é muito lindo.... – contou Nina, se derretendo.

Elas continuaram comentando o menino. Marina era assim, sempre tinha alguém por quem babar! Ela estava voltando para o seu lugar, e Lucas estava indo para o dele, o que causou um novo encontro entre eles. Marina resolveu falar com ele.

- Você. – disse ela, apontando pra ele. - Lucas, certo?

- É. – respondeu ele, sem poder dizer mais alguma coisa, porque Marina o interrompeu.

- É verdade que você dá aulas de violão? – perguntou Marina, sendo totalmente direta, antes que perdesse a coragem.

- Ah, não são bem aulas, mas eu posso ensinar sim. – respondeu ele.

- Er, interessante... – disse Marina, realmente interessada.

- Então... – Lucas se mostrou interessado também.

- Onde, quando e quanto? – perguntou Nina.

- Onde você quiser, quando você quiser, quanto, depois a gente vê. – respondeu ele, sorrindo quase que maliciosamente, em um tom que deixou Nina mais à vontade.

- Huumm... legal! – respondeu Nina, no mesmo tom e também sorrindo – Depois a gente conversa então.

Lucas teria continuado a conversa, mas ele teria tempo de falar com ela de novo, e afinal, estavam no meio da aula. Marina voltou para o seu lugar, e Lucas para o dele.

A aula passou rápido, e Marina não conseguiu prestar atenção em nada, a única coisa que pensava era no rápido diálogo que acabara de ter com Lucas. Apesar de ter sido muito rápido, Marina se sentiu bem falando com ele, isso nunca acontecia quando ela estava perto de alguém com quem ela nunca havia falado. A voz de Lucas tinha um tom de brincadeira, que a deixava mais à vontade. Ela queria continuar aquela conversa. Falar com ele mais uma vez. Saber sobre ele. Uma amizade, talvez? Poderia começar assim, mas ela queria mais que isso.

Uma pessoa com quem Nina pegou bastante amizade foi Patrícia. Elas sentavam perto uma da outra, e começaram a conversar com mais freqüência. Nina estava meio que sozinha no colégio, sua amiga Laura, com quem era mais apegada, havia saído do colégio logo na primeira semana, e então ela encontrou em Patrícia uma nova amizade tão forte quanto a que tinha com Laura, apesar da diferença de tempo de cada uma.

Patrícia conhecia Lucas, eles haviam estudado juntos no ano anterior. Nina não sabia disso até que viu os dois conversando. Sem querer se intrometer, mas já se intrometendo, Nina entrou na conversa, como quem não quer nada, ela simplesmente não podia perder a chance de estar tão perto dele, ouvir a voz dele...

No final da aula, quando Nina já estava a caminho de casa, ela percebeu que Lucas estava indo na mesma direção. Ela com certeza já o teria notado indo na mesma direção que ela nos outros dias, mas ele nunca seguia aquele caminho, sempre fazia o caminho inverso. Ele estava alguns passos atrás dela, e ela diminuiu a velocidade, esperando talvez, que ele falasse com ela. E foi o que ele fez.

- Você também vai por aqui? – perguntou ele, quando começou a andar ao lado dela.

- Aham. – foi tudo que ela conseguiu dizer. A presença dele tão perto a deixava meio zonza.

- Então, e o violão, vai querer aprender? – perguntou ele, tentando fazer a conversa fluir.

- Tipo, desde que eu me entendo por gente, é o meu sonho. Só que na verdade, eu queria tocar guitarra, mas aprendendo violão... – confessou ela.

- Não é muito diferente, eu posso te ensinar. Só que agora eu ando meio sem tempo... – disse ele, meio que chateado por não ter tempo. – Mas quando eu tiver um tempo, eu falo com você.

- Claro, obrigada. – disse ela, sem jeito.

- Você tem alguma noção de como é? – perguntou ele.

- Nenhuma! – ela admitiu.

- Mas não é difícil, você aprende rápido. Assim, tem que ter vontade e disposição, e levar a sério... – ele começou a falar e falar, mas ela não estava prestando atenção nas palavras que ele dizia, e sim no interesse com que ele falava com ela, no som da sua voz, ele tão perto. Eles caminharam juntos por quase todo o caminho de volta. Lucas falando o tempo todo sobre cifras, e modelos de violão, ou de guitarra, e Nina concordava ou discordava nos momentos certos, mas não conseguia se concentrar no que ele estava falando, só nele. Quando chegou numa esquina, Lucas parou o seu discurso e disse:

- Agora eu vou por aqui. – e apontou uma rua que seguia no sentido contrário ao dela.

- Huum... eu vou por aqui. – disse Marina apontando a direção para onde ia. – então tchau. Até amanhã.

- Ah... tchau. Amanhã a gente se vê. – disse Lucas se despedindo, deu um beijo no rosto de Marina, e foi embora.

Marina ficou vermelha quando ele a beijou. Ela mal podia acreditar que tinha andado ao lado dele todo esse tempo, que ele estava interessado em ensinar a ela, que ele tinha dado um beijo nela. Ela não via a hora que chegasse o outro dia. Ver ele de novo. Poder conversar com ele... Ela ainda não sabia descrever o que sentia quando estava perto dele, mas era como se estivesse completa.

Naquele mesmo dia, enquanto Marina via o seu Orkut, ela começou a procurar Lucas nos perfis de alguns conhecidos dela que poderiam ter ele. Ela encontrou várias pessoas da sua sala, mas Lucas não. Não era possível que ele não tivesse Orkut! Ela não desistiu. Até que, vendo as fotos de um menino da sua sala, ela encontrou uma foto que tinha o Lucas. Nina imediatamente salvou-a. Na foto, aparecia Lucas, Luis (era esse o nome do menino com quem Lucas havia entrado na sala no primeiro dia de aula) que era o dono do perfil que Marina achara, e mais dois meninos que ela não conhecia. Uma vez salva a foto, Marina cortou os outros garotos da foto, deixando apenas Lucas, o único que lhe interessava. Ela passou boa parte da tarde olhando a foto, onde Lucas estava vestindo uma blusa de moletom clara, um boné preto, estava sorrindo e segurava um celular na mão, e antes de Nina cortar a foto, ele estava apoiado em um amigo.

- Pelo menos, agora eu tenho uma foto dele. – pensou ela.

Já era tarde e Marina precisava buscar sua irmã. Ela trocou de roupa, colocando um “jeans e camiseta” básico, e um casaco. O caminho que ela fazia para ir para a creche, era o mesmo que Lucas havia apontado pela manhã. Ela passou por ali se lembrando da imagem de Lucas ali, naquele mesmo lugar, pensando em onde ele morava, em onde ele estaria naquele exato momento, o que estaria fazendo, se estaria pensando nela tanto quanto ela esteve pensando nele nos últimos dias.

Nina estava tão distraída que, ao virar a esquina, se assustou.

- Não acredito! – balbuciou ela, se calando em seguida, ao lembrar que estava andando sozinha na rua. Às vezes Marina andava tão concentrada em seus pensamentos, que até pensava alto demais, se pegando falando sozinha no meio da rua. Essa fora uma dessas vezes. Estaria ela ficando louca? Tendo alucinações? Ou será que era mesmo real? Ele estava ali mesmo, indo na sua direção? Ela não conseguia parar as perguntas em sua cabeça, mas não tirava os olhos da imagem de Lucas que crescia a cada passo, onde ficava cada vez mais próximo. Ela só foi se dar conta que era mesmo ele quando ele passou por ela e a cumprimentou com um simples “Oi” e continuou andando.

Marina ficou realmente confusa. Como assim, “Oi” e continuou andando? Onde estava toda a simpatia com que ele falou com ela pela manhã? Será que ele estava com algum problema? Definitivamente, não era o mesmo garoto que foi tão querido, tão atencioso com ela pela manhã. Essa atitude a deixou, além de confusa, preocupada. Poderia estar acontecendo alguma coisa... Mas que seja, o que ela tinha haver com isso? Ela acabara de conhecê-lo, não tinha nada que estar se metendo na vida dele. Talvez ele simplesmente não se lembrasse de onde a conhecia. Quantas vezes ela já agiu assim com alguém, por lembrar que conhecia e não saber da onde? Era tão normal situações como essa.

- Esquece Marina, es-que-ce! – pensou ela. Mas não conseguiu cumprir.

Mais tarde em sua casa, Marina ficou tentando entender o que havia acontecido, mas não conseguia chegar a nenhuma conclusão. Ela poderia aproveitar que agora estava “conversando” com Lucas, e perguntar pra ele no dia seguinte. Mas, esperar até amanhã pra falar com ele de novo? Nina resolveu que não, e voltou para a Internet, procurar o suposto perfil de Lucas. Procurou por horas, página por página de cada pessoa que ela sabia que ele tinha algum contato, e nada. Por fim, acabou apenas admirando a foto dele que encontrara. Ele era diferente.

No dia seguinte, Nina estava muito ansiosa para chegar logo ao colégio e poder ver Lucas. Ela acordou mais cedo que o necessário, antes que sua mãe viesse lhe acordar, e se apressou em se arrumar. Antes das sete horas da manhã ela e sua irmã já estavam prontas pra sair. Marina deixou sua irmã na creche e seguiu seu caminho para a escola, imaginando ao olhar para cada casa que passava que esta poderia ser a casa de Lucas.

Quando Marina chegou ao colégio ainda era muito cedo e a escola estava quase vazia, o que significava que ela teria tempo de pensar em como comentar com Lucas a situação do dia anterior, sem parecer interessada demais ou paranóica demais. À medida que o tempo passava a escola começava a ficar cheia, e Marina ainda não sabia como chegar ao ponto em que queria com Lucas. Patrícia, agora já considerada sua amiga, chegou e foi conversar com Nina. Isso a distraiu do seu foco inicial, e foi bom, pois ela pôde pensar em outra coisa que não fosse Lucas. Não demorou muito e Mily se juntou a elas. Quando Marina deu por si, o sinal já havia tocado e Lucas ainda não havia chego. Ela ficou desapontada e foi para a sua sala.

A primeira aula daquele dia foi Química, com a professora Eva. Aquele era o tipo de aula que ela não queria ter naquele momento. Sempre muitas explicações, leituras e poucas cópias do quadro. Tudo que Marina queria agora era um bom texto pra copiar, pois assim poderia controlar um pouco seus pensamentos. Ela adorava escrever, principalmente quando estava nervosa. Ouvir sobre tabelas periódicas e seus elementos químicos, definitivamente, não estava nos seus planos. E como havia imaginado, a aula demorou muito a passar. Com Lucas por perto, as aulas pareciam ser bem mais curtas para Marina. E agora que ele não estava na sala, ela se sentia incompleta. Por mais que as suas amigas estivessem ali ao seu lado, ela sentia que faltava uma parte.

Apesar de quase sempre a atenção e concentração de Marina estar voltada somente para Lucas, ela era uma boa aluna. Não precisava ouvir duas vezes uma explicação para entender o que estava sendo passado. Os professores gostavam muito dela como aluna. Ela sempre foi uma das melhores da turma.

Quase no final dessa primeira aula, Nina “acordou”. Ela havia passado a aula inteira quase que dormindo, e pensando no que não é difícil adivinhar: Lucas. Um pouco antes de bater o sinal para a segunda aula, ela se animou como se tivesse sido despertada de um transe. O motivo dessa animação repentina estava por chegar. Assim que o sinal tocou, e a professora deixou a sala, Lucas entrou, iluminando a expressão de Marina, como se fosse o sol. Ela estava completa. O sol, o seu sol, que estava encoberto, acabara de aparecer. Um sorriso discreto, mas de satisfação tomou conta do seu rosto ao olhar para a face um tanto quanto misteriosa de Lucas.

- Ele veio. – sussurrou ela pra si mesma. Era a hora de perguntar o que havia acontecido ontem.

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